30/08/13

Uma Ecosofia da informação inspirada em Gilbert Simondon

Gilbert Simondon, um pensador heterodoxo, nos anos 50, fez uma crítica profética da teoria linear e tecnológica da informação dos fundadores da cibernética. Defendeu que a informação é algo mais do que sinais, digitais ou não, a serem processados ordenadamente e sem ruído ou entropia pelo nosso cérebro ou por CPUs de computadores. Esta visão castradora irá ser acolhida como uma teologia do capitalismo, usando os termos de Hermínio Martins, na sua religiosidade selvagem e cruel sob a máscara da racionalidade. 





Simondon defende que a inovação e criatividade são o cerne de todo o acto informativo. Deve-se ver o fluxo informativo como um acontecimento ecosófico, em que o humano e não humano se ligam. Tem de ter algo de caos e algo de previsível. Uma posição com influência oriental ligada ao principio activo e passivo. Haveria, segundo ele, uma espécie de princípio masculino da ordem e um principio feminino do caos e do desejo, da fusão "nagual" com a natureza. Informar é também algo de criativo e caótico sendo este último a base da emoção inteligente.
Sendo assim, haveria "uma antinomia técnica que coloca um problema filosófico: a informação não é um acontecimento do acaso porque se distingue dele. Uma estereotopia absoluta ao excluir toda a novidade, exclui toda a informação. Porém, para se distinguir informação de ruído, é necessária a redução dos limites da indeterminação” (Simondon, 1989: 134-136). Uma redução a ser feita com muito cuidado e carinho. 


A teoria alternativa da informação do filósofo francês Simondon, que classificaria de budista, permite, se quiserem, uma autêntica ecologia, uma ecologia profunda não positivista e descentrada do egoísmo da espécie humana. Uma ecosofia. Pode-se encarar os objectos técnicos e os outros seres vivos como criações fantásticas e dignas de respeito e carinho. Mesmo quando nos aparecem como caóticas. Somos todos co-criações de algo muito belo chamado vida ou bio-esfera. Usando as palavras dos indígenas de América Latina somos todos, seres do planeta, um só coração inteligente que é composto em grande parte de "nagual", de intuição no meio do caos do pensamento. As consequências políticas deste pensamento, aparentemente ingénuo e tão simples, são arrasadoras quando vemos a enorme crueldade da forma de vida baseada na feitiçaria da mercadoria e da ordenação.

A teoria alternativa da informação constitui um ponto de partida para uma ecosofia que não se reduz apenas aos aspectos ambientais. Mostra-nos que a informática, a forma como utilizamos os computadores, como nos informamos uns aos outros terá de ter um outro ponto de partida sob pena de o planeta e a nossa mente não poderem suportar tanta racionalidade e acção de índole masculina.

Gilbert Simondon, Du mode d'existence des objets techniques, Paris, Aubier, 1958, 1968, 1989

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