25/02/14

Máscaras e sub-máscaras no rosto de alma.

                                                                   Teseu e o Minotauro




"Ah quantas máscaras e submáscaras,
Usamos nós no rosto de alma, e quando,

Por jogo apenas, ela tira a máscara,

Sabe que a última tirou enfim?"
Fernando Pessoa, Poemas Ingleses, Lisboa, Ática, 1974, p. 165.


O que pode acontecer quando se começa a perder as máscaras e sub-máscaras, quando ainda não aderiram totalmente à carne? O que poderá suceder quando o inconsciente irrompe como uma onda do mar? 

"Se os conteúdos do inconsciente chegarem à consciência, como o indivíduo reagirá? Será dominado pelos conteúdos? Aceita-los-á credulamente? Rejeita-los-á? O primeiro caso significa paranóia ou esquizofrenia; o segundo torna o indivíduo um excêntrico, com certo gosto pela profecia, ou então pode fazê-lo retroceder a uma atitude infantil, apartando-se da sociedade humana; o terceiro significa a restauração regressiva da 'persona' ou máscara" (C. G. Jung). 

Poderá assistir-se a uma perda do auto-controlo com o inconsciente a tomar a rédea seja abrindo-se, seja fechando-se. Ou a uma inflação, a uma inflamação doentia do "ego" com as percepções de um acesso mais directo ao inconsciente saindo para fora, numa lógica de "padre" ou de "profeta new-age"; ou a uma deflação para dentro no isolamento. Ou pode acontecer uma regressão para a "normalidade" mascarada.

O primeiro caminho significa que se deixa de ser o capitão do próprio barco quer pelo medo excessivo, a mania da perseguição, o delírio (teorias conspiratórias por todo o lado até à desrealização total), quer por um fechamento interior, uma resistência típica em muitos jovens (a maioria do género feminino). O segundo é o do retorno à máscara agora profética seja como chefe, seja como subordinado, a lógica da seita que domina alguns grupos de 'new age', um vírus poderoso. Ou o monge ou o budista que se isola para meditar. Ou a do solitário que se afasta dos homens. E uma terceira via que consiste na negação, na mentira interior. A restauração regressiva da 'persona', criado (a) e dominado (a) pelos padrões patriarcais. 

Por fim, "os que não quiserem renunciar aos grandes tesouros enterrados na psique coletiva deverão lutar, de um modo ou de outro, a fim de manter a ligação recém-descoberta com os fundamentos originários da vida." 

(citações de Carl Gustav Jung, O eu e o inconsciente, cap. IV - Tentativas de libertar a individualidade da psique coletiva).

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