20/09/13

Diálogos do interior e do anterior (1): "O Anúncio Tailandês Que Fez o Mundo Chorar"



"A percepção é magia. Existe apenas uma magia solar, portadora da Luz favorecendo a iluminação do mágico. O resto é somente ilusionismo, feitiçaria ou busca de poderes. A atitude mágica consiste em fazer pulsar em si um coração de origem celeste para despertar a percepção do invisível."

Texto inspirado em C. J., O mundo mágico do antigo egipto



Diálogos do interior e do anterior (1)
"O Anúncio Tailandês Que Fez o Mundo Chorar"
Voz do interior: Momentos mágicos impossíveis de explicar pela neuro-biologia do cérebro. Na Tailândia. Alguém criou estas imagens que prococaram lágrimas. Milhões delas. Sensações puras. Onde as percepções, momentos posteriores, se desvanecem.  Como se, por momentos e ao mesmo tempo, milhares de rostos fossem iluminados por um vento vindo do fundo do universo. Como se, por breves momentos, momentos de fraternidade e iluminação interior, linhas invisíveis os conectassem com algo superior. Momentos de com paixão.

Voz do anterior: Dar é assim um gesto tão mágico e tão subversivo aos mesmo tempo? Não serão apenas emoções manipuladoras de um anúncio para vender algo? Publicidade à própria agência? E não haverá até algum oportunismo pois valoriza no final a recompensa? Como se nos incentivasse a dar pois é um bom negócio, afinal. Uma espécie de discurso "new age" produtor de emoções fáceis, neste caso boas e generosas mas ineficazes e momentâneas.  Uma espécie de fábulas para entreter os meninos, para eles não terem a noção da dimensão da crueldade avassaladora do capitalismo actual. E, na minha opinião, as pessoas choram para olvidar os seus erros. Para se limparem como se fosse alguém a expiar as suas culpas pelo acto de contricção.

Mas é uma falsa contrição. Um falso sentir dos erros cometidos. Não é um autêntico sentido de culpa mas uma breve culpabilização. E por isso, o retorno ao "pecado" (igual a desarmonia com a natureza), à diabolização, à divisão interior ou, nos piores casos, ao olvidar completo do interior, da voz do coração.

São seres, na sua enorme maioria, fascinados pela feitiçaria do "possuir", como diz o filósofo italiano Giorgio Agamben. Pela ilusão diabólica, pois divide-nos por dentro, da posse de algo. Posse de papéis com números reconhecidos como poderosos. Criando assim avidez, desenvolvendo assim os nossos centros energéticos inferiores: posse territorial, avidez (alimentar e sexual) e narcisismo galopante e cada vez mais psicopata, segundo o psicólogo Arno Gruen.

Mas, pensando bem, há algo, no filme e no seu efeito de verdadeiramente estranho. O efeito do acto de dar. 

Nas ciências sociais, há textos para entender a origem deste efeito. O antropólogo Marcel Mauss escreveu há cerca de cem anos atrás palavras mágicas sobre o tema num ensaio sobre o 'dar'. Esse texto de poucas páginas foi lido por milhares e milhares de pessoas.

Passados muitos anos, alguém o leu e olhou "realmente" em torno de si. Esse homem chamava-se Sen e foi prémio nobel da economia. Com palavras justas carregadas de sabedoria, mostrou ao mundo a via "económica" para seguir sobrevivendo. Para evitar a sua destruição. Algo para ele de calamitoso. Terrivelmente calamitoso.

Essas palavras repetem com um eco a mesma emoção partilhada por milhares de tailandeses. A mesma emoção pura criadora de percepção nua, completamente despida de "sujidades". Esse texto de Marcel Mauss afectou realmente, segundo li algures num texto brasileiro, o cérebro desse economista um pouco estranho. De um modo certeiro, suponho eu, pois as palavras de Sen são muito estranhas para um economista.

Essa teoria económica defende um retorno à economia campesina, uma economia da dádiva, adoptando o termo do ensaio de Marcel Mauss. A fonte inspiradora do economista foi a sociedade indiana. Os aspectos comunitários dos camponeses indianos. Herança talvez da acção do primeiro presidente Gandhi. Um pouco desse fenómeno parece estar acontecer em países do oriente sob influência budista. Ver o caso do Butão.
Voz do anterior
Infelizes tempos vivemos, tempos cheios, mas não plenos, de crueldade.

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